Todos somos consumidores
Em uma década, a população preta foi o grupo social que teve maior ascensão econômica e educacional no Brasil. Por fatores estruturais, sociais e políticos, entenda como estes atores até então periféricos fizeram um milagre e transformaram o palco do modelo social de consumo.
Parece que faz tanto tempo, mas foi ontem, mais precisamente entre os anos 2004 e 2010 quando 32 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B e C. Era o milagre brasileiro acontecendo e diante de nossos olhos 20 milhões de pessoas saíram da pobreza e o Brasil nunca mais seria o mesmo.
Os dados são de 2014 quando a recém criada classe C, ou a classe de emergentes que saíram da pobreza para batalhar sua sobrevivência na classe média, gastou mais 1,17 trilhões de reais e movimentou 58% de todo o crédito do sistema bancário brasileiro.
E assim o Brasil mudou. Ficou mais preto, mais periférico, mais diverso, mais nordestino, mais favelado, mais feminino,mais gay. A melhora do padrão de vida, educação e acesso à cultura fizeram com que o Brasil começasse a repensar o Brasil. Pela primeira vez a renda dos mais pobres havia crescido 132% e a dos mais ricos, pasmem, diminuído 5%. Tá, eu sei que não é nada. Mas se por um lado escancara a desigualdade e o abandono total que o Brasil vivia até então, mostra que houve uma mudança estrutural jamais vista na história e que alterou o futuro do Brasil.
Nesta década agora saudosa, o bom momento da economia internacional e o governo interno impulsionou dezenas de milhões de brasileiros à classe média. Apoiada por programas sociais (frutos da luta dos Movimentos Sociais), crédito facilitado e juros mais baixos e um clima de esperança nacional, muita gente conseguiu colocar o primeiro carro zero na garagem, viajar de avião, entrar na universidade e principalmente se empoderar e tomar o controle do seu futuro.
A contribuição da comunidade preta
Quando aplicamos o recorte racial nos dados de crescimento econômico daquele tempo quando todos nós nutríamos sonhos para o futuro, é visível perceber que a população preta foi beneficiada diretamente, mas que continua frágil diante das mudanças nos rumos das economia e na estabilidade política. Três séculos de regime de trabalho escravista trouxeram males palpáveis para econômica , e os afrodescendentes, vítimas do sistema racista, seguem sofrendo os males de três séculos de exploração de mão de obra e impedimento de desenvolvimento econômico pessoal.
Porém algo é inegável: com o aumento do poder de consumo e a obtenção não apenas de bens materiais, mas de experiências e esperança no futuro, algo mudou e não tem mais volta. O caracter desses indivíduos está forjado, seu coração está forrado de sonhos. Cada vez é mais potente e efetiva a luta e a força com que a comunidade preta se move rumo a seus objetivos e isso é positivo para toda a sociedade. Não tem volta.
Um grande exemplo desse movimento é o afroempreendedorismo. Aliada a natureza de histórica de estratégia de subsistência, a criação de negócios por pessoas pretas e afrodescendentes passou a abranger diversas áreas da sociedade e se tornar um grande expoente de desenvolvimento econômico e social. E assim luta dos pretos vai levando a sociedade para o progresso, dignidade e felicidade de todos. Isto é Ubuntu aplicado ao negócios.
Somos todos consumidores!
Claro que não seremos economicistas e considerar apenas números para explicam a realidade brasileira. O país considerado a sétima maior potência do mundo, é também o mais desigual, mais racista, o que mais mata população LGBTT, abandona crianças, idosos, presos,pobres e todos que precisam dele. Não podemos esquecer para nunca aceitar.
Mas de qualquer forma, depois destes anos de crescimento econômico e investimento nas parcelas da sociedade mais esquecida, houve uma grande transformação cultural e social e a comunidade preta acelerou seu passo em direção à reafirmação do preto e à independência financeiras.
Impulsionado pelos anos de crescimento, o terrível momento econômico e político não impede que mulheres se fortaleçam todos os dias, que pretas armem e amem seus crespos, que o ecossistema de empresas pretas se multiplique todos os dias, que exista uma classe média crescendo e se multiplicando através da política de cotas e ações afirmativas. Nada impediu nem impedirá que a população preta siga seu caminho rumo a prosperidade e crescimento econômico, e é por isso que estamos aqui.
Faça parte deste movimento. Participe do Painel BAP!
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Luanna Teofillo é fundadora e CEO da Doorbell Ventures, mãe do Painel BAP. Mais do que uma entusiasta dos números e apaixonada pela história e cultura preta, é grata por poder presenciar e participar o Renascimento da Civilização Africana.
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